Face Leste foi exibido ao ar livre, em frente a igreja São José Operário (Foto: Rodrigo Herrero)

Sábado foi dia de apresentar o projeto Face Leste na Favela da Vila Prudente. Uma experiência única e muito bacana. A projeção aconteceu ao ar livre, em frente à igreja São José Operário, em uma das entradas da favela.

As cadeiras foram colocadas no meio do trânsito de pessoas, motos, carros e bicicletas. E, apesar da nossa preocupação inicial de interferências durante a exibição, nada atrapalhou.

Enquanto preparávamos o projetor, a criançada se aproximava e, curiosa, perguntava o que iria ocorrer. A resposta de um filme sobre a Zona Leste deixava garotos e garotas de três a cinco anos com um ponto de interrogação na cabeça, o que não impediu que permanecessem para assistir ao vídeo.

O sino da igreja foi a senha para que as pessoas tomassem as cadeiras colocadas na passagem, recebendo jovens, adultos, idosos. Nas casas ao redor, janelas curiosas abriam para ver o que se passava e um comerciante assistia, da bancada de sua mercearia, um pedaço do vídeo, entre uma venda e outra.

Ao final, aplausos, um bate-papo rápido com os moradores, a distribuição dos livros e a satisfação de poder, em parceria com o movimento social organizado da própria favela, proporcionar aos seus moradores um momento de lazer e conhecimento a respeito da face leste de nossa São Paulo.

Exibições

No próximo sábado, dia 19, acontecerão dois encontros sobre o Face Leste. Às 10h, o pessoal que discute a Agenda 21 no Sesc Itaquera nos convidou para falar sobre o projeto. À noite, a partir das 19h, estaremos no Memorial da Penha para um sarau em que o Face Leste será tema de discussão. Para mais informações, clique aqui.

Cinemateca Brasileira recebeu um grande público para a exibição do Face Leste (Foto: Theo Grahl)

A noite do dia 04 de maio vai ficar marcada para sempre na memória de toda a equipe da Bonita Produções e de todos os que participaram do projeto Face Leste. Ocorreu a primeira exibição em cinema do documentário na sala BNDES da Cinemateca Brasileira, situada na Vila Clementino, zona sul de São Paulo. A apresentação aconteceu dentro do “Programa Primeira Exibição”, voltado para novos diretores.

A qualidade da obra acabada salta aos olhos ao ver o vídeo em HD, com uma projeção que só uma sala de cinema pode oferecer. Estrutura fantástica. Só faltou a pipoca!

Além do próprio público da Cinemateca, prestigiaram o evento amigos, familiares, parceiros e personagens que contribuíram com seus depoimentos ao projeto. O Fran, morador de Itaquera e que participa do livro e do vídeo, não só esteve presente como levou mãe, tia, filho e mais algumas senhoras e crianças que participam do seu projeto social AEC Kauê Itaquerense. Francisco Folco, do Memorial da Penha, que falou sobre o bairro no livro e no vídeo também marcou presença com sua esposa.

Aqui vale também um agradecimento especial à Dona Therezinha Cecília da Silva Lira, da Cidade Tiradentes, além de familiares e amigos pela presença no evento, mesmo com todo o transtorno provocado pelo ônibus quebrado e a chegada tardia à Cinemateca. Lamentamos muito, Dona Therezinha, mas agradecemos de coração a intenção e em breve estaremos na Cidade Tiradentes exibindo o documentário para vocês.

Falando em exibição, no dia 12 de maio voltaremos à Zona Leste para apresentar o documentário e distribuir livros, desta vez, na Favela da Vila Prudente. A exibição no Memorial da Penha foi adiada, em data a ser confirmada, provavelmente para o dia 19 de maio. Mais informações, clique aqui.

Curiosidade

Você sabia que o local onde hoje está a Cinemateca Brasileira era o Matadouro Municipal de São Paulo? Construído entre 1883 e 1887, seus galpões abasteceram de carnes toda a capital paulista até 1927. Tendo tido diversos outros usos a partir de então, só em 1992 que o antigo matadouro passou a abrigar filmes, sendo hoje o maior acervo da América Latina.

Hoje a gente traz no Blog da Bonita a primeira parte de um texto com algumas curiosidades sobre os bairros selecionados para o livro Face Leste: revisitando a cidade. A cada pesquisa iniciada, a cada leitura concluída, as informações iam brotando aos borbotões, e sendo agregadas ao material anterior, indicando um mundo gigantesco de histórias e possibildiades de abordagem para cada capítulo-bairro. E cada bairro, claro, com sua peculiaridade, revelando que a Zona Leste possui um mosaico complexo e heterogêneo, modificando um pouco o cenário cinza e único de pobreza e abandono, comum quando se faz comentários sobre a região. Mas, além de produzir uma diversidade social e cultural ricas, a Zona Leste também tem muita história.

A mais antiga delas remete aos primórdios da colonização brasileira e da fundação de São Paulo, ainda Vila de Piratininga. São Miguel Paulista foi um dos primeiros aldeamentos da cidade, e teve no seu fundador o valioso personagem religioso, o Beato José de Anchieta, partícipe da fundação de São Paulo. O aldeamento de São Miguel de Ururaí era estratégico no século XVI, principalmente por proteger a Vila de Piratininga dos ataques dos franceses, auxiliados pelos índios Tamoios, que vinham do Litoral Norte e ameaçavam atacar via Mogi das Cruzes.

Outra região antiga da Zona Leste é a da Penha, que surgiu a partir do fervor religioso em torno de Nossa Senhora da Penha, que foi a origem e o motor do bairro. As extensas procissões de fiéis até a região para venerar a santa proporcionou a formação do bairro que hoje é bastante tradicional na Zona Leste e até já foi sede do governo da antiga província de São Paulo, durante a revolução de 1924, quando o então governador Carlos de Campos se refugiou no bairro ante os ataques dos tenentes revoltosos. E até uma visita do então imperador Dom Pedro II no final do século XIX é fato de orgulho para seus moradores.

Esse período também foi marcante por conta da crescente imigração estrangeira, que trouxe italianos, portugueses, espanhois, japoneses e toda a sorte de imigrantes que vinham com o sonho de prosperar na farta terra brasileira. Muitos foram trabalhar na lavoura de café no interior paulista, em regiões como Jundiaí, e eram levados até lá de trem a partir do desembarque no Porto de Santos. E um dos pontos de recrutamento de imigrantes era na Hospedaria dos Imigrantes do Brás, que motivou o crescimento deste bairro, da Mooca, Vila Prudente e Pari na Zona Leste, além do Ipiranga, Lapa, Barra Funda, Bom Retiro, as regiões em torno da linha férrea, que receberam várias indústrias, em que muitos imigrantes que não se acostumavam com a lavoura acabavam por trabalhar.

Por agregar tantos operários, esses bairros também foram fontes de reivindicação por melhorias nas condições de trabalho e salário, sendo símbolo a Greve de 1917, que teve início na Mooca e produziu diversos progressos nas leis que foram formuladas nos anos seguintes, principalmente no governo Getúlio Vargas.

Uma peculiaridade interessante está na Vila Prudente ter sido fundada por uma família de italianos, que desejavam instalar uma grande fábrica de chocolate e confeitos e forjaram um bairro para fazer seu negócio dar certo.

Apesar da história do Tatuapé remontar ao século XVII, o bairro também abrigou indústrias, embora em um período posterior, o que propiciou um melhor desenvolvimento tecnológico, empresas mais avançadas e maiores. Isso vai proporcionar, anos mais tarde, uma condição especial na construção de empreendimentos imobiliários para muitas das famílias ricas e tradicionais do bairro, aproveitando os imensos galpões vazios das antigas fábricas, o que vai dar elevar o padrão de moradia e de moradores no Tatuapé em anos mais recentes.

Na semana que vem, a segunda parte desse texto repleto de curiosidades sobre os bairros da Zona Leste paulistana. Até lá.